Praticamente todos os Córregos de Porangatu estão degradados


A água que nasce e corre em direção ao riacho e que depois desemboca no ribeirão tem encontrado pelo caminho: lixo, esgoto e descaso. Esse é o retrato de, praticamente, todas as nascentes na parte urbana de Porangatu. Além das pesquisas que confirmam isso, as histórias contadas pelos ribeirinhos são de dar dó.

A aposentada, Maria Rosa de Souza, mora no setor Garavel há 30 anos. Antigamente o córrego próximo da sua residência era limpo, bonito e agradável. “Os meninos banhavam, a gente lavava roupa, vasilhas. Eu mesma já lavei roupas nesse córrego. Agora; não tem jeito minha filha, só tem sujeira. Até esgoto escorre para lá”.

A sensação que a aposentada diz ter é de morar ao lado de uma fossa, pois o cheiro que o córrego exala é insuportável. Na época da chuva os problemas se intensificam. “É terrível, pois aumenta o mau cheiro. Desce muita sujeira pelas enxurradas”, completa.

No setor Jardim Brasília a situação é preocupante. Vários córregos estão sendo aterrados e segundo os moradores são restos de construções jogados pela própria prefeitura da cidade.

A dona de casa, Almerinda Veloso Rosa, acha essa ação muito errada, justamente porque incentiva outras pessoas a fazerem o mesmo. “Ali joga tudo quanto é lixo, é galinha, é cachorro quando morre, o povo acha que ali é o cemitério deles. O perigo é que depois vem a meninada e banha naquela água podre.”, complementa.

Almerinda Veloso Rosa diz que se não cuidar do córrego, ele irá morrer. A dona de casa vê essa degradação com muita tristeza, afinal quando chegou ao local 20 anos atrás o cenário era de muito verde, água límpida e abundante. “Aqui era totalmente diferente, muito mais preservado!”

Nem os córregos da parte história de Porangatu escapam da degradação do homem. Desde o poço do milagre até as nascentes que cortam a rua Dunga não estão mais preservados. Existem casas construídas tão próximas que é um desacato evidente a lei de proteção ambiental.

A lei das APPs (Áreas de Preservação Permanente) exige respeito aos mananciais de água. Se for construir próximo a esses locais é preciso respeitar uma distância de 30 metros, para o curso d’ água com menos de dez metros de largura. E, ao redor de nascente ou olho d’ água, ainda que intermitente só pode construir algo com o raio mínimo de 50 metros, de tal forma que proteja, em cada caso, a bacia hidrográfica contribuinte.

A costureira, Rosalina de Souza Caldeira, é vizinha do córrego da rua Dunga há 10 anos. Segundo ela a cada ano a impressão é que ele fica ainda mais sujo. “Ah, é desmantelo do povo. Eles jogam lixo, não tem um pingo de conscientização. Isso aí era para ser bonito. Bem arrumadinho”.

De acordo com a costureira, mesmo com toda a maldade da população ela acha que o riacho não vai secar. “Ele não seca não. Na hora que começa as águas ele fica bonito. Um dó não poder tomar banho. Eu mesma, não tenho coragem, porque a água é poluída”, explica.

Denúncias

A indignação de ver a situação caótica dos riachos é tanta, que levaram alguns moradores fazerem denúncias no Ministério Público de Porangatu. Este é o caso do pintor, Oésio Bezerra da Silva, que com mais 6 amigos apresentaram filmagens mostrando a degradação de nascentes, no órgão jurídico.

De acordo com Oésio Bezerra da Silva as denúncias foram feitas em 2008. “O Dr. Wilson Nunes Lucio ficou de tomar providências dentro de 15 dias. Aí passou esse prazo e a gente voltou lá, e tinham mapeado o local. Mas, acho que está a Deus dará, ou seja, do mesmo jeito”.

Segundo o pintor é muito triste ver como tudo está acabando e ninguém fazendo nada para reverter o quadro. Morador de Porangatu há 40 anos, Oésio Bezerra da Silva conhece bem a região. Por isso, afirma que córregos como o Areião, Tremedeira, Azulão e o Ribeirão estão chegando ao fim.

“Inclusive, aqui na rua Santo Antônio era a cabeceira da nascente que está sendo depredada. E, descendo a rua 23 encontra-se lá a cabeceira do córrego Azulão que também está sendo depredado. É um local que a gente banhava, pescava e inclusive trazia peixe para casa”, ele explica.

Na opinião de Oésio Bezerra da Silva ainda existe solução. A primeira é conscientizar todos de que a água é fonte de vida. É preciso ter cuidado com as nascentes, inclusive dentro das cidades. Só assim, teremos credibilidade para cobrar do pessoal que vive na zona rural.

Procuramos o Dr. Wilson Nunes Lucio para dar explicações sobre as denúncias que foram feitas no Ministério Público. Só que até o fechamento desta reportagem ele não tinha nos respondido.

Pesquisadora da UEG faz um alerta

A professora do curso de Geografia da UEG, Lucimar Marques da Costa Garção, já desenvolveu projeto de extensão juntamente com seus alunos nos principais córregos de Porangatu. O objetivo era limpar, revitalizar e conscientizar os ribeirinhos sobre a importância de se preservar as nascentes.

“Uma vez a gente fez a limpeza de um córrego e à medida que a gente ia limpando, retirando o lixo, a água ia surgindo. Foi uma maravilha! Quando a gente limpa e quando a gente cuida, a água volta a passar com toda a qualidade, que é preciso”, ela explica.

Na opinião da professora, infelizmente, a lei das APPs não é respeitada dentro da cidade de Porangatu. Pois, o que impera é a lei paternalista do poder municipal, onde eles acabam deixando as pessoas comprarem lotes, talvez por serem mais baratos em áreas próximas aos córregos. “O certo seria o poder público criar loteamentos em áreas próprias e retirar a população das áreas ribeirinhas. A gente percebe que o problema maior seria mesmo o paternalismo da lei. É difícil, quando esse tipo de conceito passa a frente das questões ambientais, das leis maiores”, complementou.

Lucimar Marques da Costa Garção disse ainda; que quem irá pagar o preço da nossa falta de conscientização ambiental será os nossos filhos e netos. “Pois, os próprios ribeirinhos pedem para aterrar os córregos, argumentando que o local só serve para juntar lixo e mosquito da dengue. Só que a maioria da população não entende que aquele fio de água que corre naquele córrego menor irá unir a outras nascentes até formar um córrego maior”, enfatizou.

O resultado de todo esse descaso com os córregos pode gerar em um futuro bem próximo a diminuição do volume de água do Ribeirão Funil e do Canabrava. Os dois principais rios, que abastecem os mais de 40 mil habitantes de Porangatu.

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