A cigarra



O breu veio sem pedir licença.Não veio calmo e nem sorrateiro. Simplesmente veio e se alojou.Era só escuridão o prédio. Um silêncio ensurdecedor ecoou do improvável! Televisores,rádios, smartfones,secadores, notebooks, ou seja: todas as máquinas. Os moradores, que ali estavam pararam o que faziam, como brincadeira de estátua. Na verdade ficaram quietos de forma obrigatória. Nessa vida cotidiana, só mesmo a falta de energia elétrica para parar pessoas que correm sem parar. 
Lógico que muitos são insistentes e de maneira comedida iam jantando (afinal a colher já estava cheia), tomando banho (só que agora frio), descansando na rede, sofá, puf ou em um canto qualquer da casa. Só que para isso tiveram que reprogramar. Ao lado de uma vela, lanterna ou isqueiro faziam ou melhor se atreviam no que podiam.
As crianças na área de recreação achavam inusitado um barulho talvez nunca ouvido antes emitido pela cigarra. Ela passou a ser o centro da atenção. Muitos nem sabiam do que se tratava e perguntavam aos adultos sabichões o que era.
Esse inseto cantante, que anuncia a chuva emitia um som horas a fio. Enquanto isso, os moradores estavam trancafiados e imersos na própria escuridão.
Momento negro para clarear reflexões sobre essa selva de prédios. Como ainda sobre os reféns da modernidade e dos aparatos tecnológicos trazidos por ela. Livres somente as cigarras; que ganharam status de maestras, tenores, sopranos ou meramente artistas do luar.
Quem sabe a falta de luz dê um iluminar para desvencilharmos dos vícios de teclar, zapear e teletransportar para universos tão longes de nós mesmos, da família e da natureza.
Por tudo isso, uma salva de palmas para as cigarras! Você já ouviu falar que elas cantam, cantam tanto e tanto que até morrem de tanto cantar? Pois é, só espero que hoje não seja um dia fatídico e que elas continuem cantarolando esse som exótico de primavera.

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