A arte de recriar


É na desilusão que sobra espaço para pensar. Pensamentos muitas vezes escapados pelas mãos, mente e coração. É na queda que ganhamos força para ressurgir. Nem que seja uma subida mínima de um único degrau. É no desemprego que o ganha pão se torna árduo e a criatividade aflora. Assim é para mim, para você e foi para Silvio Di Oliveira.

Jardineiro por 18 anos em um hospital particular de Goiânia, Silvio podou ressentimentos e teve que fazer brotar sorrisos, mesmo após uma demissão. Pai de 4 filhos tão acostumado as flores, teve que colher desespero, angustia e medo por alguns meses. Viu-se desesperado tentando encontrar uma saída.

- Fiquei igual ‘passarim’ sem asa. Desorientado mesmo. Muitas vezes chorava e desabafava com a minha esposa Irani ‘Fui tão honesto e passando por isso’.

Dificuldade, esta da vida, que lança grandes desafios. Silvio encarou o inimigo, ou melhor, o desemprego de frente. Chorou! Caminhou. Bateu em muitas portas. Pediu. Suplicou. Voltou para casa mais um dia de mãos vazias. Em frangalhos dormiu um sono que ele jamais esqueceu:

- Sonhei que estava pintando um girassol e as folhas de um coqueiro me estorvava.

Acordou convicto que a partir daquele dia iria para as ruas pintar quadros. Arte essa que nunca tinha se atrevido, nem mesmo nos tempos da escola primária no município de Formoso.

-A única arte que fazia é a que todo ‘muleque’ faz.

Em 5 anos, foram mais de mil telas vendidas. A inspiração do sonho se concretizava quadro a quadro. Margaridas, violetas, girassóis... Enfim, a natureza recriada por Silvio.

- Na época eu queria vender o quadro com um preço melhor, mas eu não conseguia porque eu era muito fraco, não tinha conhecimento na arte e nem nome pra dizer ‘eu quero tanto’.

O tempo foi passando. Silvio agora é Di Oliveira. Tem um ateliê como todo artista plástico. Autodidata, surpreende pela superação. Não tinha tela. Construía. Pincel quebrava. Pegava vara de pescar e pêlo do rabo de cavalo e fazia o próprio pincel. Tintas acabaram. Lá ia Silvio atrás de açafrão, cinzas... Rotineiramente ele ia mergulhando em uma nova filosofia de vida. Reaproveitar. Recriar. Reciclar!

-Busco tudo na reciclagem. O que não serve mais para os outros e tá jogado na rua serve para eu ganhar dinheiro. Basta eu colocar a mão e fazer transformações.

Silvio Di Oliveira faz arte. Arte de colaborar com o meio ambiente. Arte de impressionar. Arte de tornar lixo em algo belo. Ele segue experimentando: isopor vira resina, aro de bicicleta suporte para a tela, tocos velhos esculturas.

- Esse negócio de reciclar é um dever nosso, nós temos por obrigação cuidar do meio ambiente. Todo mundo. Não é só um não!

A vida é mesmo assim: cheia de obstáculos. Felizes são aqueles que conseguem continuar a caminhada. Sábios são os que encontram na adversidade uma resposta para os problemas. Silvio Di Oliveira encontrou na arte a sensibilidade para se tornar um homem mais forte.

Comentários

  1. Adorei! Um belo exemplo para todos os amantes de qualquer forma de arte que seja, e ficam presos em amarras impostas pelo mundo.

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  2. Como sempre, um belo texto de Amanda Costa e, mais que isso, uma lição de vida que o artista Silvio nos dá. Parabéns aos dois.

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    1. Parabéns pelo texto! Ele revela quem é em sua interação com o artístico.

      Segue um poema para refletir sobre Ser

      Ser por ser
      Ser por Ser

      Nunca será igual a ser por ter
      Muito menos por ser igual a outro ser
      Mas por ser o que deve viver
      Com toda coerência se estabelecer
      Pelas misericórdias os frutos colher
      Sem deixar o coração se envaidecer

      Ser por ser

      Nunca será igual a ser por ter
      A não ser que ter seja da fonte embeber
      Todo o amor de um novo aprender
      Onde O Doador da vida nos ensina a escolher
      Os caminhos do verdadeiro saber
      As verdades que nos ensinam a vencer

      Ser por ser

      Nunca será igual ser por ter
      Mesmo que as circunstâncias no queiram envolver
      Com todo engodo que o mal deseja sempre trazer
      Para tentar nos tirar a paz de um novo amanhecer
      Pois o renovar de um novo dia nos faz beber
      Água pura que emana do trono, fazendo rejuvenescer

      Ser por ser

      Nunca será igual a ser por ter
      Por mais que as necessidades nos levem a receber
      As chamadas de estar no mundo sem se esquecer
      O que somos e para quem somos em nosso dever
      De amar a Deus e ao próximo ao entender
      Que os eleitos pela graça a Cristo sempre vão enaltecer....(DSB)




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    2. Fico muito feliz em receber esse elogio. :)

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    3. Unknown realmente o Silvio Di Oliveira nos dá uma grande lição. E, é justamente por isso, que não poderia jamais deixar de narrar essa história de vida. ;)

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  3. É a necessidade que faz o sapo pular!!! Mas uma vez usando a leveza e um belo exemplo pra nos fazer refletir sobre questões pertinentes à nossa evolução. A incrível capacidade que temos de nos recriar! Obrigado Amanda.

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    1. Eu é que agradeço a leitura, Asdrúbal Tranqueira, e um comentário tão bacana como esse! ;)

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  4. É impressionante a capacidade de resistência que nós brasileiros/as desenvolvemos. Resistimos a toda sorte de intempéries, inventando, criando, reinventando e recriando. As portas nunca se fecham o suficiente para nos fazer desistir e esmorecer. Parabéns ao Sílvio pela capacidade de enfrentamento, e parabéns a você, Amanda, pela sensibilidade e pela capacidade descrever e narrar com poesia o que para a maioria das pessoas poderia parecer apenas dureza, que acabaria sendo traduzida por lamentação.

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  5. Tânia Rezende quanta honra ler esse seu comentário... São palavras "mágicas" que me fazem continuar escrevendo, criando e recriando. ;)

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  6. Muito lindo isso.. o texto, a arte, a reciclagem/reutilização, a superação. Parabéns Amanda e obrigado pela partilha dessa estória! Esse seu olhar que 'acha' as coisas que a gente nem sabe que procura e transpõe em jornalismo literário é um primor!
    Achei interessante o lance do sonho do Silvio... a pitada de onirismo lembra que é vida é tão mais mágica que pragmática, assim como as palavras mágicas.

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    1. João Damasio eu é que agradeço a leitura e comentário. Quero que saiba que ouvir isso de você é único. É simplismente a chave que me leva a caminhos que nem sei aonde vai dar.... Grande abraço!!!

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  7. Amanda quero te agradecer pelas palavras... que me da forças para continuar !! agradeço muito pela oportunidade e pra mim e um prazer ser motivo de comentarios de uma pessoa tao culta e de grande importancia no meio cultural e comunicativo!! pessoas como voce contribuen com o meio artistico e cultural..obrigado pelo incentivo!! abraços

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    1. Não precisa agradecer não Silvio Di Oliveira. Pois, compreendo que minha sina é contar boas histórias e a sua história de vida é simplismente fantástica. Abraço!

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